Temáticas:
A imagética Feminina
- A mulher fatal,
altiva, aristocrática, “frígida”, que atrai/fascina o sujeito poético,
provocando-lhe o desejo de humilhação. É o tipo citadino artificial, surge
portanto associada à cidade, servindo para retratar os valores decadentes e a
violência social. Esta mulher surge na poesia de Cesário incorporando um valor
erótico que simultaneamente desperta o desejo e arrasta para a morte,
conduzindo a um erotismo da humilhação (poemas Esplêndida, Vaidosa, Frígida).
- A mulher
angélica, “tímida pombinha”, natural, pura, acompanhada pela mãe, embora
pertencente à cidade, encarna qualidades inerentes ao campo. Desperta no poeta
o desejo de proteção e tem um efeito regenerador (poema Frágil ou Débil).
Binómio
cidade/campo
O contraste
cidade/campo é um dos temas fundamentais da poesia de Cesário e revela-nos o
seu amor ao rústico e natural, que celebra por oposição a um certo repúdio da
perversidade e dos valores urbanos a que, no entanto, adere.
- A cidade
personifica a ausência de amor e, consequentemente, de vida. Ela surge como uma
prisão que desperta no sujeito “um desejo absurdo de sofrer”. É um foco de
infeções, de doença, de MORTE. É um símbolo de opressão, de injustiça, de
industrialização, e surge, por vezes, como ponto de partida para evocações,
divagações.
- O campo, por oposição, aparece
associado à vitalidade, à alegria do trabalho produtivo e útil, nunca como
fonte de devaneio sentimental. Aparece ligado à fertilidade, à saúde, à liberdade,
à VIDA. A força inspiradora de Cesário é a terra-mãe, daí surgir o mito de
Anteu, uma vez que a terra é força vital para Cesário. O poeta encontra a
energia perdida quando volta para o campo, anima-o, revitaliza-o, dá-lhe saúde,
tal como Anteu era invencível quando estava em contacto com a mãe-terra.
O campo é, para
Cesário, uma realidade concreta, observada tão rigorosamente e descrita tão
minuciosamente como a própria cidade o havia sido: um campo em que o trabalho e
os trabalhadores são parte integrante, um campo útil onde o poeta se identifica
com o povo (poema Petiz). É no poema Nós que Cesário revela
melhor o seu amor ao campo, elogiando-o por oposição à cidade e considerando-o
“um salutar refúgio”.
A oposição
cidade/campo conduz simbolicamente à oposição morte/vida. É a morte que cria em
Cesário uma repulsa à cidade por onde gostava de deambular mas que acaba por
aprisioná-lo.
Questão
Social
O poeta coloca-se ao
lado dos desfavorecidos, dos injustiçados, dos marginalizados e admira a força
física, a pujança do povo trabalhador.
O poeta interessa-se
pelo conflito social do campo e da cidade, procurando documentá-lo e
analisá-lo, embora sem interferir.
- Anatomia do homem
oprimido pela cidade
- Integração da
realidade comezinha no mundo poético
O
Impressionismo adaptado ao Real
“A mim o que me preocupa é o que me rodeia”.
A poesia do quotidiano despoetiza o
ato poético, daí que a sua poesia seja classificada como prosaica, concreta. O
poeta pretende captar as impressões que os objetos lhe deixam através dos
sentidos.
Ao vaguear, ao
deambular, o poeta perceciona a cidade e o “eu” é o resultado daquilo que vê.
Cesário não hesita
em descrever nos seus poemas ambientes que, segundo a conceção da poesia, não
tinham nada de poético.
Cesário não só
surpreende os aspetos da realidade, como sabe perfeitamente fazer uma reflexão
sobre as personagens e certas condições.
A representação do
real quotidiano é, frequentemente, marcada pela captação perfeita dos efeitos
da luz e por uma grande capacidade de fazer ressaltar a solidez das formas (visão
objetiva), embora sem menosprezar uma certa visão subjetiva –
Cesário procura representar a impressão que o real deixa em si próprio e às
vezes transfigura a realidade, transpondo-a numa outra.
Linguagem e Estilo
Cesário Verde
é caracterizado pela utilização do Parnasianismo, que é a busca da perfeição
formal através de uma poesia descritiva e fazendo desta algo de escultórico,
esculpindo o concreto com nitidez e perfeição. O parnasianismo é também a
necessidade de objetivar ou despersonalizar a poesia e corresponde à reação
naturalista que aparece no romance. Os temas desta corrente literária são temas
do quotidiano com um enorme rigor a nível de aspecto formal e há uma
aproximação da poesia às artes plásticas, nomeadamente a nível da utilização
das cores e dos dados sensoriais.
Através deste
parnasianismo ele propõe uma explicação para o que observa com objetividade e,
quando recorre à subjetividade, apenas transpõe, pela imaginação
transfiguradora, a realidade captada numa outra que só o olhar de artista pode
notar.
Cesário utiliza
também uma linguagem prosaica, ou seja, aproxima-se da prosa e da linguagem do
quotidiano.
A obra de Cesário
caracteriza-se também pela técnica impressionista, ao acumular pormenores das
sensações captadas e pelo recurso às sinestesias, que lhe permitem transmitir
sugestões e impressões da realidade.
A nível
morfossintáctico recorre à expressividade verbal, à adjetivação abundante, rica
e expressiva, por vezes em hipálage, ao colorido da linguagem e tem uma
tendência para as frases curtas.
- Vocabulário concreto
- Linguagem coloquial
- Predomínio do uso do decassílabo e do alexandrino
- Uso do assíndeto, que resulta da técnica
de justaposição de várias perceções
- Técnica descritiva assente em sinestesias,
hipálages, na expressividade do advérbio, no uso do diminutivo e na utilização
da ironia como forma de cortar o sentimentalismo.
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