quarta-feira, 14 de maio de 2014

Cesário Verde: uma visão geral sobre a temátice e estilo da sua poersia

Temáticas:

A imagética Feminina


- A mulher fatal, altiva, aristocrática, “frígida”, que atrai/fascina o sujeito poético, provocando-lhe o desejo de humilhação. É o tipo citadino artificial, surge portanto associada à cidade, servindo para retratar os valores decadentes e a violência social. Esta mulher surge na poesia de Cesário incorporando um valor erótico que simultaneamente desperta o desejo e arrasta para a morte, conduzindo a um erotismo da humilhação (poemas Esplêndida, Vaidosa, Frígida).

 

- A mulher angélica, “tímida pombinha”, natural, pura, acompanhada pela mãe, embora pertencente à cidade, encarna qualidades inerentes ao campo. Desperta no poeta o desejo de proteção e tem um efeito regenerador (poema Frágil ou Débil).

 

Binómio cidade/campo


O contraste cidade/campo é um dos temas fundamentais da poesia de Cesário e revela-nos o seu amor ao rústico e natural, que celebra por oposição a um certo repúdio da perversidade e dos valores urbanos a que, no entanto, adere.

 

- A cidade personifica a ausência de amor e, consequentemente, de vida. Ela surge como uma prisão que desperta no sujeito “um desejo absurdo de sofrer”. É um foco de infeções, de doença, de MORTE. É um símbolo de opressão, de injustiça, de industrialização, e surge, por vezes, como ponto de partida para evocações, divagações.

 

- O campo, por oposição, aparece associado à vitalidade, à alegria do trabalho produtivo e útil, nunca como fonte de devaneio sentimental. Aparece ligado à fertilidade, à saúde, à liberdade, à VIDA. A força inspiradora de Cesário é a terra-mãe, daí surgir o mito de Anteu, uma vez que a terra é força vital para Cesário. O poeta encontra a energia perdida quando volta para o campo, anima-o, revitaliza-o, dá-lhe saúde, tal como Anteu era invencível quando estava em contacto com a mãe-terra.

O campo é, para Cesário, uma realidade concreta, observada tão rigorosamente e descrita tão minuciosamente como a própria cidade o havia sido: um campo em que o trabalho e os trabalhadores são parte integrante, um campo útil onde o poeta se identifica com o povo (poema Petiz). É no poema Nós que Cesário revela melhor o seu amor ao campo, elogiando-o por oposição à cidade e considerando-o “um salutar refúgio”.

 

A oposição cidade/campo conduz simbolicamente à oposição morte/vida. É a morte que cria em Cesário uma repulsa à cidade por onde gostava de deambular mas que acaba por aprisioná-lo.

 

Questão Social


O poeta coloca-se ao lado dos desfavorecidos, dos injustiçados, dos marginalizados e admira a força física, a pujança do povo trabalhador.

O poeta interessa-se pelo conflito social do campo e da cidade, procurando documentá-lo e analisá-lo, embora sem interferir.

- Anatomia do homem oprimido pela cidade

- Integração da realidade comezinha no mundo poético

 

O Impressionismo adaptado ao Real


“A mim o que me preocupa é o que me rodeia”.

 

A poesia do quotidiano despoetiza o ato poético, daí que a sua poesia seja classificada como prosaica, concreta. O poeta pretende captar as impressões que os objetos lhe deixam através dos sentidos.

Ao vaguear, ao deambular, o poeta perceciona a cidade e o “eu” é o resultado daquilo que vê.

Cesário não hesita em descrever nos seus poemas ambientes que, segundo a conceção da poesia, não tinham nada de poético.

Cesário não só surpreende os aspetos da realidade, como sabe perfeitamente fazer uma reflexão sobre as personagens e certas condições.

A representação do real quotidiano é, frequentemente, marcada pela captação perfeita dos efeitos da luz e por uma grande capacidade de fazer ressaltar a solidez das formas (visão objetiva), embora sem menosprezar uma certa visão subjetiva – Cesário procura representar a impressão que o real deixa em si próprio e às vezes transfigura a realidade, transpondo-a numa outra.

 

Linguagem e Estilo

Cesário Verde é caracterizado pela utilização do Parnasianismo, que é a busca da perfeição formal através de uma poesia descritiva e fazendo desta algo de escultórico, esculpindo o concreto com nitidez e perfeição. O parnasianismo é também a necessidade de objetivar ou despersonalizar a poesia e corresponde à reação naturalista que aparece no romance. Os temas desta corrente literária são temas do quotidiano com um enorme rigor a nível de aspecto formal e há uma aproximação da poesia às artes plásticas, nomeadamente a nível da utilização das cores e dos dados sensoriais.


Através deste parnasianismo ele propõe uma explicação para o que observa com objetividade e, quando recorre à subjetividade, apenas transpõe, pela imaginação transfiguradora, a realidade captada numa outra que só o olhar de artista pode notar. 


Cesário utiliza também uma linguagem prosaica, ou seja, aproxima-se da prosa e da linguagem do quotidiano.

A obra de Cesário caracteriza-se também pela técnica impressionista, ao acumular pormenores das sensações captadas e pelo recurso às sinestesias, que lhe permitem transmitir sugestões e impressões da realidade.

A nível morfossintáctico recorre à expressividade verbal, à adjetivação abundante, rica e expressiva, por vezes em hipálage, ao colorido da linguagem e tem uma tendência para as frases curtas.

- Vocabulário concreto

- Linguagem coloquial

- Predomínio do uso do decassílabo e do alexandrino

- Uso do assíndeto, que resulta da técnica de justaposição de várias perceções

- Técnica descritiva assente em sinestesias, hipálages, na expressividade do advérbio, no uso do diminutivo e na utilização da ironia como forma de cortar o sentimentalismo.

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